Acostumados a combater incêndios, resgatar vítimas e proteger a população em situações de emergência, os membros do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal também têm uma função pouco conhecida: a coleta domiciliar e o transporte de leite humano. No total, 23 militares integram as equipes que percorrem as regiões administrativas para buscar leite das mães doadoras. Essa iniciativa assegura um alimento vital para bebês prematuros internados em UTIs neonatais e ajuda a manter os estoques da rede de saúde, que atualmente atingem apenas 86% da meta mensal.
No Hospital Regional de Taguatinga (HRT), a subtenente Daniela Moura faz parte de uma das duplas encarregadas desse trabalho. “Costumamos dizer que não estamos fugindo da nossa missão de salvar vidas. Esse ato também salva. Os bebês são muito prematuros e sensíveis, e apesar dos avanços da ciência, o leite materno é insubstituível. Ele é crucial para uma recuperação mais rápida”, explicou. Em média, são realizadas 20 visitas domiciliares por dia.
O apoio dos bombeiros complementa o esforço das equipes de saúde. Natália Conceição, fonoaudióloga e chefe do Banco de Leite do HRT, destaca que os estoques estão abaixo da meta. “Tanto os militares quanto outros profissionais envolvidos nessa causa sentem um grande agradecimento, pois reconhecem o impacto que têm na vida desses bebês. É gratificante fazer parte de um momento tão transformador”, afirmou.
Natália também ressaltou a importância da doação: “O leite humano é considerado o padrão ouro pela Organização Mundial da Saúde. Ele muda vidas e é essencial para o desenvolvimento de uma criança em recuperação. Em julho, conseguimos coletar dois mil litros, mas em agosto ficamos aquém do esperado, com 1.700 litros. A época da seca é sempre crítica”, disse.
O Distrito Federal é uma referência mundial em políticas de incentivo ao aleitamento, contando com 14 bancos de leite humano e sete postos de coleta. Em média, entre 150 e 200 recém-nascidos internados em UTIs dependem mensalmente do leite doado.
A professora Sofia Mesquita, de 27 anos, é uma dessas mulheres que mudam a vida de outras famílias. Mãe de Clara, de 4 meses, ela soube que podia doar por meio de uma amiga. “Na minha primeira gestação, eu tinha hiperlactação e descartava quase um litro de leite por dia. Foi muito difícil. Quando descobri que poderia doar, isso se tornou uma cura para mim. No meu primeiro filho, doei mais de 38 litros apenas para o HRT. É trabalhoso e exige organização, mas quando entendemos que esse leite pode salvar a vida de um bebê, tudo vale a pena”, contou emocionada.
De janeiro a agosto, foram cerca de 3,6 mil doadoras e mais de 12 mil litros de leite humano coletados no DF, superando o volume registrado no mesmo período de 2024 (11,7 mil litros). O leite doado é destinado principalmente a bebês prematuros e de baixo peso internados em UTIs neonatais. Nos primeiros oito meses do ano, aproximadamente 9,4 mil bebês foram atendidos pela Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR).
Como doar
Para realizar a doação, a mãe deve estar saudável e produzir mais leite do que o necessário para seu bebê. O cadastro pode ser feito pelo Disque Saúde 160 (opção 4), pelo site Amamenta Brasília ou pelo Portal Cidadão do DF. A coleta é realizada em casa, com a orientação das equipes e apoio do Corpo de Bombeiros, que transporta o leite até os bancos.
“É um gesto simples, mas que deve ser realizado com cuidado. É preciso acreditar na causa e no propósito do aleitamento materno. Quem está nessa missão sabe que cada frasco representa uma vida”, resume a subtenente Daniela.
Assim que o leite chega a uma das unidades do banco, ele passa por um controle físico-químico e microbiológico para garantir sua segurança antes de ser oferecido ao paciente. Após isso, sob refrigeração, o leite poderá ser utilizado em até seis meses.
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