Uma lobo-guará fêmea foi reintegrada à natureza nesta sexta-feira (21), após receber tratamento para uma infecção bacteriana no Hospital e Centro de Reabilitação da Fauna Silvestre do Distrito Federal (Hfaus). O animal foi resgatado em Luziânia (GO) com sinais de fraqueza e apatia, ficando sob os cuidados da unidade, vinculada ao Instituto Brasília Ambiental, por um mês. A soltura aconteceu na Área de Proteção Ambiental (APA) Cafuringa, em Brazlândia.
Durante sua internação, a equipe técnica do Hfaus realizou uma série de exames para diagnosticar a condição clínica da fêmea, que estava com dificuldades para se manter em pé e precisava ser alimentada por sonda. Foram realizados testes de sangue e fezes, ultrassonografia, raio-X e avaliações cardíacas, além de análises para doenças infectocontagiosas. Os resultados indicaram erliquiose, uma hemoparasitose comum em animais, causada por bactérias que infectam as células sanguíneas e podem levar a apatia, perda de peso e dificuldade de locomoção.
O coordenador do Hfaus, biólogo Thiago Marques de Lima, informou que os tratamentos foram iniciados imediatamente após o diagnóstico, com medicações, uma dieta prescrita por um especialista e acompanhamento diário. “A dieta foi planejada para atender todas as necessidades nutricionais da fêmea, incluindo vitaminas, proteínas e fibras. Monitoramos diariamente a alimentação dela,” explicou.
A lobo-guará apresentou uma rápida recuperação e, após um mês, foi liberada para a soltura em uma área preservada. “Realizamos análises periódicas de sangue e fezes. Quando todos os parâmetros se normalizam e o comportamento dela retorna ao padrão natural, podemos afirmar que está pronta para voltar à natureza,” destacou o coordenador.
Após a internação, a lobo-guará foi encaminhada ao Centro de Triagem de Animais Silvestres do Distrito Federal (Cetas-DF), que definiu a data e o local de soltura. A partir desse momento, o animal será monitorado por um colar GPS e por câmeras instaladas nas áreas de proteção do DF, permitindo acompanhar sua adaptação ao habitat natural, assim como informações sobre predação e áreas de circulação. O colar é adequado ao porte da fêmea e programado para se abrir automaticamente após seis meses.
Júlio César Montanha, chefe do Cetas-DF, ressalta que essa estratégia é fundamental para compreender melhor a espécie e garantir que ela desempenhe seu papel ecológico. “Os dados coletados são essenciais para a conservação da espécie e manutenção do Cerrado, uma vez que o lobo-guará é crucial para o controle de outras populações de animais. O retorno à natureza demonstra o esforço das instituições para preservar o Cerrado,” afirmou.
Desde a abertura do hospital em fevereiro até dezembro de 2024, foram atendidos 1.953 animais (61% aves, 37% mamíferos e 2% répteis). Os maiores números de resgates vieram do Plano Piloto, Lago Sul, Taguatinga, Candangolândia e Lago Norte, com as espécies mais frequentes sendo saruê, periquito-de-encontro-amarelo, sagui-de-tufos-pretos e coruja-buraqueira.
Os meses de setembro e outubro apresentaram os maiores números de atendimentos, com 675 e 1.002, respectivamente. A principal causa de entrada foi a necessidade de cuidados neonatais (assistência a filhotes e jovens) e lesões ou fraturas. Além disso, entre os 888 pacientes que foram atendidos e enviados ao Cetas-DF, 407 foram reintegrados à natureza durante o período analisado.
Neste ano, o Hfaus já atendeu 2.274 animais (64% aves, 33% mamíferos e 3% répteis), com o maior número de resgates concentrado no Plano Piloto, Taguatinga, Candangolândia, Sobradinho e Lago Norte. As espécies mais frequentes foram as mesmas do ano anterior: saruê, periquito-de-encontro-amarelo, sagui-de-tufos-pretos e coruja-buraqueira. A principal causa de entrada também se manteve: cuidados neonatais e lesões ou fraturas. Em setembro e outubro, os atendimentos foram 363 e 521, respectivamente.
No que diz respeito aos indivíduos da ordem carnívora, 19 foram atendidos em 2024, dos quais oito faleceram e 11 receberam alta. Desses, cinco eram lobos-guará: três receberam alta e dois não sobreviveram. Em 2025, o número de atendimentos na mesma ordem subiu para 22: seis morreram, quatro ainda estão internados e 12 já receberam alta. Foram sete lobos-guará atendidos, com quatro ainda internados, um liberado e dois falecidos.
A estrutura do Hfaus foi projetada para respeitar o comportamento natural das espécies, com a divisão de grupos (mamíferos, répteis e aves) e alas que evitam o estresse causado pela proximidade entre presas e predadores.
Em caso de avistamento ou resgate de animais silvestres, a orientação é não intervir diretamente. O ideal é acionar os órgãos ambientais pelo 190 (BPMA) ou 193 do Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF).








