Nos corredores do Hospital Cidade do Sol (HSol), em Ceilândia, o cuidado é transmitido de forma delicada, seja em gestos, olhares, no café quente ou no simples toque de mão. É nesse ambiente que o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) tem revolucionado a maneira de lidar com a finitude da vida.
Neste sábado (11), Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, o instituto celebra não apenas um serviço, mas uma filosofia: a de que cada ser humano merece dignidade até o último momento.
Pela primeira vez, as UPAs do Núcleo Bandeirante, Vicente Pires e Ceilândia I começaram a oferecer atendimento em cuidados paliativos, sob a supervisão de médicos especializados. No HSol, o serviço foi fortalecido com uma equipe multiprofissional dedicada, assegurando assistência integral e acolhedora a pacientes em estado grave ou sem perspectiva de cura, mas que têm pleno direito ao bem-estar.
Cuidado em Cada Detalhe
A rotina no HSol é marcada por gestos de carinho e atenção. A paciente Severina Mendes da Silva, de 77 anos, com Parkinson avançado, está internada há três meses. Sua nora, Helena Costa Falcão, relata que o cuidado vai muito além do tratamento médico.
“Todos são muito atenciosos. A equipe conversa e escuta. Minha sogra é lúcida e seus desejos são atendidos aqui no hospital. Quando pede um doce de leite, um arroz-doce com canela ou até um sorvete neste calor, eles sempre dão um jeito. É um acolhimento que conforta toda a família”, conta Helena.
Atendendo a Pequenos Desejos
A fonoaudióloga e chefe da equipe multiprofissional, Camila Alencar Frois, afirma que atender aos pequenos desejos dos pacientes faz parte do processo terapêutico. “Essas vontades representam conforto. Claro que tudo é avaliado pelo nutricionista, mas buscamos que se sintam bem. Fazemos o máximo para isso”, explica.
Camila também encontra tempo para pintar as unhas das pacientes. “Elas me pedem, escolhem a cor, e eu faço com carinho. É um momento de vaidade e resgate da identidade. Virei a manicure oficial delas”, brinca.
Uma Equipe que Acolhe com o Coração
O hospital conta com dez leitos exclusivos para cuidados paliativos em contexto de fim de vida, atendendo pacientes oncológicos e não oncológicos. A maioria tem mais de 80 anos, mas a unidade já acolheu até pacientes centenários. A equipe é composta por psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas, que, junto às famílias, elaboram um plano terapêutico focado no bem-estar e na autonomia do paciente.
Acolhimento é um Exercício Diário
Para a gerente-geral do hospital, Julia Gurgel, o projeto transformou a visão dos profissionais sobre o cuidado. “Aprendemos que acolher é um exercício diário. Às vezes, a família entende o quadro, mas no dia seguinte volta cheia de dúvidas e medos. E estamos aqui para acolher quantas vezes forem necessárias. Isso nos humaniza. Ensina que cuidar não é apenas salvar vidas, mas amparar a dor com respeito”, reflete.
A enfermeira responsável pela ala de paliativos, Adália Gonçalves, destaca a importância da empatia. “Poderia ser minha mãe ou meu avô. Aqui, cuidamos para que o último momento seja o mais confortável possível”, completa.
Funcionamento do Serviço
O atendimento é destinado a pacientes de diversas idades que necessitam de cuidados paliativos. A triagem é feita com base na ferramenta internacional SPICT, que avalia a elegibilidade dos casos para esse tipo de acompanhamento.
Quando há indicação, a equipe especializada é acionada. Nas unidades com médicos paliativistas fixos, o atendimento é presencial. Nas demais, o suporte é dado por teleconsulta, permitindo avaliação clínica e encontros virtuais com familiares, ampliando o acolhimento e a integração da equipe com o núcleo familiar.
Foco no Conforto
Nos casos mais delicados, o paciente é encaminhado ao HSol, onde o foco é o conforto. A equipe trabalha no controle de sintomas e na adoção de medidas proporcionais ao quadro clínico, oferecendo um ambiente acolhedor, com atenção especializada e humanizada. “Parte dos pacientes consegue se recuperar e voltar para casa. Outros permanecem conosco até o fim, sempre com respeito e dignidade”, explica o médico paliativista Arthur Luz, chefe do Núcleo de Cuidados Paliativos do IgesDF.
Cuidados no HRSM
No Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), uma equipe dedicada também oferece esse tipo de atendimento. O time é composto por uma enfermeira paliativista e médicos disponíveis 24 horas, responsáveis por avaliar e responder a solicitações das equipes assistenciais.
“Muitas pessoas chegam em busca de atendimento e acabam descobrindo um câncer ou outra doença em estágio avançado. A partir daí, iniciamos o acompanhamento e oferecemos suporte necessário, tanto para o paciente quanto para a família, até que ele seja encaminhado para o Hospital de Apoio de Brasília ou para o HSol”, explica a enfermeira Léia Lima.
Apesar de ser um serviço recente, já apresenta resultados significativos. Em apenas três meses de implantação, houve uma redução nas internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para pacientes sem critérios clínicos para esse tipo de suporte, além da diminuição de procedimentos desnecessários.
Qualidade de Vida
“Estamos conseguindo oferecer um espaço adequado, com atenção especializada e humana. Isso evita procedimentos invasivos e proporciona qualidade de vida. Nosso trabalho é aliviar, ouvir e estar presente”, destaca Arthur.
O Instituto planeja expandir o serviço nos próximos meses. “Queremos fortalecer a teleconsulta e incluir mais profissionais paliativistas, assegurando que todas as unidades tenham suporte técnico e humano”, conclui o especialista.
Com informações do IgesDF
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